Sua falta de ânimo e o modelo de Estado o que têm a ver?

No Estado Moderno, Liberal, capitalista, o modelo de sociedade é organizado em classes sociais. Isso é indiscutível e ainda que possamos discutir o caráter das clases e estratificação intermediários (que dependem da organização social do trabalho), Karl Marx foi certeiro em afirmar que no fundo há duas classes antagônicas, que podemos sintetizar em: os que trabalham, produzindo valor e os que exploram o valor produzido pelo trabalho alheio. Classe trabalhadora e burguesia.

Esta burguesia, que vive de explorar o fruto do trabalho alheio não é a família dona do mercadinho da esquina. Não é a pessoa que "empreende" tendo seu negócio e tem que trabalhar muito para que ele dê certo. Você muito provavelmente não conhece um burguês pessoalmente. Não imagina como vive, os ambientes que frequenta, como se locomove...Você não sabe quase nada destas pessoas, ainda que se esforce em sabê-lo. A forma de vida destes é tão diferente na maioria de nós, que vivemos do trabalho, que nos custa imaginar o quão diferente é. Imagine, pelas notícias diárias do mercado financeiro que estas pessoas perdem milhões de dólares em minutos e até segundos e eu e você muito provavelmente nunca conseguiremos um milhão na vida toda. Nossas famílias não conseguem juntar um milhão, ainda que estejam objetivando isso durante gerações, passando de bisavós, para avós, para mães-pais....A herança da classe trabalhadora é uma herança que vai perdendo seu valor com o tempo, enquanto a da burguesia vai valorizando mais e mais, de forma que grande parte das famílias mais ricas do mundo hoje, são as mesmas do renascimento, começo da atividade banqueira.

Só há uma forma de romper esta lógica: mudando o modelo do Estado e da política econômica, o que mudará a cultura e modelo de instituições sociais.

Hoje, mesmo as esquerdas institucionalizadas - que dizem ter o projeto de mudança social - não esforçam-se para isso. Afirmam querer mudar, mas tudo o que fazem reforça, no fundo, a lógica deste modelo de Estado e sociedade. Seja por falta de criatividade teórica, levada pelo colonialismo não conseguem ir além das teorias modernas - e todas levam à manutenção do Estado Moderno, já que o criaram e nunca até aqui quiserem pensar em mudá-lo - seja porque para a Europa, especialmente aquela que sonhou um projeto de domínio global -eurocentrismo - este modelo deu e dá certo.

Este modelo de sociedade faliu! Para 99% da população mundial ele não é efetivo, pois não garante satisfação das necessidades mais básicas. O problema é que o 1% da sociedade burguesa, aqueles que realmente mandam no mundo, detém a riqueza necessária - às custas da exploração do trabalho alheio - para dominar via comunicação, produção de conhecimento e midiática, ou seja, ideologicamente, os 99% da população que sofre seu domínio.

Rosa Luxemburgo disse certa vez algo como: quem não se mexe, não sente as correntes que lhe prendem. Paulo Freire disse que se não fosse os dominados ajudarem no processo de domínio dos dominadores, este não seria possível...

Hoje este domínio é tão forte, que evidencia a ilusão de muitos marxistas de que o desenvolvimento do capitalismo seria tão cruel que as pessoas perdendo as condições de vida, se tornariam críticas e se rebelariam.

O domínio tecnológico é tão forte que muda a essência das pessoas. Impondo cobranças sociais impossíveis de serem cumpridas e culpabilizando os sujeitos E as torna capazes de morrerem de fome, mas rindo, com o videozinho engraçado do TIK TOK.